Ler para quê?
Falar de leitura para mim
hoje em dia é algo prazeroso, gratificante e enriquecedor. Mas minhas primeiras
experiências com esta “palavrinha leitura” não foi das melhores...
Estudei o Ensino
Fundamental Ciclo I e II e Ensino Médio em escola pública, no ensino
Fundamental I a leitura não era “cobrada” pelos professores, o que eu precisava
saber era as lições da famosa cartilha Caminho Suave, não tinha problema algum
em decorar as lições, meus pais se orgulhavam de mim, pois eu lia e não repeti
em nenhuma lição. Quando terminei o Ensino Fundamental I, fui para outra escola
e lá sim sofri, mas conheci o que é leitura.
Tive um professor da
disciplina de Língua Portuguesa muito rígido, porém muito competente e
responsável com a educação. O primeiro livro que ele pediu para a turma ler
lembro-me até hoje: A árvore que dava dinheiro de Maria José Dupré, tínhamos
cinco (05) dias para ler o livro e fazer o resumo da obra. Eu chorava, pedia
para minha mãe ler em voz alta, pulava folhas, e logicamente não entendia o enredo
da história, na hora de fazer o resumo outro sacrifício, escrever o que? Tudo
era tão confuso, nada tinha sentido, não me recordava de nada. O professor
recebia meu trabalho e analisava o meu descaso pela leitura me fazia ler
novamente o livro, e assim foram-se quatro anos com incansáveis e sacrificantes
leituras.
No Ensino Médio fui fazer
CEFAM (Magistério) a partir deste momento passei a sentir falto das incansáveis
leituras, dos sacrificáveis resumos, então passei a fazer mais visitas a
biblioteca da escola, e por ano chegava a ler até seis livros nomeados da
literatura brasileira. De tanto que se tornou prazeroso terminei o magistério
fui fazer faculdade de letras.
Portanto, percebo que o
professor é peça fundamental na formação do cidadão ele tem a responsabilidade
do aguçar no aluno o gosto pela leitura, podendo iniciar por uma simples
História em Quadrinhos até um romance da literatura brasileira. Nota-se que a
insistência pode-se tornar um hábito, desde que seja indicada uma boa leitura e
que aquilo tenha um significado para o aluno, pois assim lhe interessara. Outro
fator chave é a motivação para o exercício da leitura em sala de aula, que nos
parece imprescindível para a promoção desta prática de forma produtiva e
prazerosa. Sabemos, porém, que ela se traduz em desafios constantes para os
docentes cientes das dificuldades geradas pelo próprio ambiente da sala de aula
atual.
Contudo o professor deverá
ter a preocupação em preparar um terreno propício para a apresentação do
material a ser lido, priorizar a conciliação da riqueza do texto com o
interesse e as necessidades do grupo a ser trabalhado. Estas exigências nos
remetem a existência das regras de um grande contrato implícito de comunicação estabelecido
em sala de aula entre o professor e os alunos, denominado, mais
especificamente, por Contrato didático.
Sendo assim, finalizo com
um trecho de Ângela Kleiman que caracteriza muito bem a responsabilidade dos
professores de todas as áreas e disciplinas segundo o que vem a ser leitura.
“A leitura que não surge
de uma necessidade para chegar a um propósito não é propriamente leitura;
quando lemos porque outra pessoa nos manda ler, como acontece freqüentemente na
escola, estamos apenas exercendo atividades mecânicas que pouco têm a ver com
significado e sentido. (...) A pré-determinação de objetivos por outrem não é,
contudo, necessariamente um mal. Se o leitor menos experiente foi desacostumado,
pela própria escola, a pensar e decidir por si mesmo sobre aquilo que ele lê,
então o adulto pode, provisoriamente, superimpor objetivos artificialmente criados
para realizar uma tarefa interessante e significativa para o desenvolvimento do
aluno.” (KLEIMAN, 1989, p.35)
Andréa Neves
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